quarta-feira, 27 de junho de 2012

Dois anos e duzentas e setenta e uma noites



Kitāb 'alf layla wa-layla, ou “O Livro das Mil e uma Noites” chegou na Europa e foi traduzido para o francês pelo orientalista Antoine Galland em 1704. Esse polvilhado escritor de peruca usou e abusou da liberdade artística, fazendo enxertos nos contos, modificando diálogos e reconstruindo enredos inteiros!

A obra não é fácil de ser lida. Não pela sua antiguidade, mas sim pelo sua narração que ocorre de forma pausada, e por diversas vezes se detém por parágrafos e mais parágrafos descrevendo palácios suntuosos, banquetes esplendidos ou figurinos extravagantes – mas, ainda assim, os contos do livro tem o seu mérito.

A história principal é simples: o sultão maluco Shahriar fez a promessa de casar todos os dias, e matar as recém empossadas sultanas após as núpcias. Mas eis que Sherazade, a mais nova sultana, malandramente é acordada todas as madrugadas por sua irmã para que conte uma história, que o sultão acaba acompanhando. No entanto, ela pára a narrativa quando o sol aparece, e isso sempre coincide com os momentos em que algo interessante ocorre nas histórias! Daí, o sultão sempre acaba adiando a execução dela... POR 1001 NOITES! :O

Oquei, mas Sherazade só conseguiu deixar o sultão piradão na dela com um macete que, ou deixou ele super interessado, ou super confuso. A sultana começa a contar uma historia dentro de uma historia dentro de uma historia... dentro da historia principal. É praticamente uma precursora do “Princípio das camadas da cebola” do filme “A origem”.

Chega um momento que esses contos contidos em outros contos acabam e chegam os ícones ocidentais do folclore oriental: Simbad, Aladim, Ali Baba e as historias do sultão 007 Harun al-Rachid.

Há um pouco de tradição e história, mas bastante de fantasia. Contudo, são três as questões mais curiosas que se apresentam ao longo dos contos:
  • O oriente é uma coisa só. China, Índia, África, Pérsia e o Oriente Médio são colados. Todos falam a mesma língua, tem os mesmos costumes, leis e tradições...
  • Todas as mulheres são lindíssimas e geram paixões avassaladoras quando são vistas sem o véu. Eu ainda acredito que isso acontece porque os heróis e vilões devem ter visto poucas mulheres sem o véu ao longo de suas vidas...
  • Sempre que tem um herói, ele é um típico cavalheiro dos romances de cavalaria. É bravo, honrado, forte e - com sorte ou não - ele vai se dar bem no final.

O final da história principal é bem chocho. Pode se aplicar a frase simplista do escritor irlandês Jonathan Swift: “No homem, o desejo gera amor; na mulher o amor gera desejo”. Mas eu fiquei indeciso se Sherazade foi uma mulher inteligente que domou um imbecil, ou se Shahriar foi um idiota que se “dominou” e apaixonou por uma mulher inteligente!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Robin Hoods autorais ou cidadãos conscientes?



Era uma vez um site chamado Livros de Humanas.  Não tinha fins lucrativos e compartilhava textos de livro bem caros, ajudando estudantes universitários com poucos recursos financeiros. E, apesar de ser desconfortável ler textos no computador, sua popularidade foi aumentando.

Então, autores e editoras que estavam deixando de lucrar com esse compartilhamento não autorizado, contataram uma entidade chamada Associação Brasileira de Direitos Reprográficos – ABDR. E ao ser acionada, está processou os donos do site e mandou desligá-lo.

É muito fácil usar do maniqueísmo nos casos de Direitos Autorais. Há sempre um antagonista, porque é impossível não haver confusão onde termina o direito de um e começa o do outro. A história pode ser invertida e falar de um humilde autor que viu seus livros sendo “pirateados” em um site, ou sobre uma editora que estava falida e quase fechando as portas e viu seus livros em um site...


Em geral, no Direito é assim, não há certo e errado. Esse tempo no escritório trabalhando com Direitos Autorias cansei de ver a enorme distância entre o ponto de vista de uma parte da de outra. Palavras e termos jurídicos são simples, mas são fácil e propositalmente confundíveis!

Mas, voltando ao caso exposto, aconteceu um “compartilhamento de contéudo não autorizado” - e é bom lembrar do “sem fins lucrativos”. A Lei de Direitos Autorais (a digníssima Lei 9.610/98) consegue caracterizar a contrafação  – “a reprodução não autorizada”. Mas não fala nada sobre o “compartilhamento não autorizado”.

Falei do crime, falta o castigo. E esse é com a Lei 10.695 de 2003. Ela, na realidade modificou o artigo 184 do poeirento Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (também chamado de Código Penal):
Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Curto e grosso, né? E a coisa piora  nos parágrafos que vem em seguida, em que temos as formas qualificadas do crime  - ou seja, com a pena consideravelmente mais alta, devido à maior reprovabilidade da conduta. Contudo, em cada signum sectionis (ou §, ou parágrafo mesmo) há sempre a expressão “com intuito de lucro direto ou indireto”.

Daí podemos entender que se a galera do site cometeu crime, mas na forma simples – aquela ali entre aspas. E só por curiosidade: o tempo da pena o caracteriza como “crimes de menor potencial ofensivo”, e a detenção, no caso, pode até ser substituída por uma pena alternativa.

Oquei, então tanto bafafá sobre um crime tecnicamente bobo chama atenção para duas coisas: primeiro a evidência de uma lacuna na Lei de Direitos Autorias; segundo fica a pergunta: compartilhar conteúdo sem fins lucrativos e sem autorização, com caráter didático, é crime?

Na minha opinião, esse episódio serve para mostrar um desacordo da legislação autoral com alguns preceitos fundamentais da Constituição Federal. Isso é grave e precisa ser discutido, pois tem a mesma raiz de outros problemas, como a quebra de patentes de remédios ou a desapropriação de terras, que é: até onde o direito ao bem individual - direito do autor - se impõe com relação ao direito aos bens coletivos - compartilhamento não autorizado da obra?

domingo, 17 de junho de 2012

Clássico de Junho


Muito bem! Após uma disputa acirradíssima, o livro A Moreninha ganhou seu lugar na resenha do mês, com seus poderosos quatro votos.


Só de ouvir falar de A Moreninha, a reação comum das pessoas é colocar a língua pra fora e dizer “Bleh, aquele romancezinho água-com-açúcar?”. Eu mesma já disse isso. Mas sou obrigada a admitir que, mesmo que seja cheio de sentimentalismos e idealizações da mulher típicas do movimento romântico brasileiro, A Moreninha é um livro agradável de ler.

Antes que me atirem as pedras, permita-me lembrar-vos que a obra de Joaquim Manuel Macedo foi publicada em 1844. Toda a sensualidade e ironia que recheiam o livro não são percebidas como eram há cento e setenta anos. Caso o livro fosse reescrito tendo como base os valores da sociedade hoje, atualizando gírias e expressões, os leitores com certeza se divertiriam tanto quanto as dondocas da época.

Por falar em atualizações... Alguém pode me dizer de alguma outra história que gire em torno de um amor de infância? Duas crianças que se conhecem, brincam juntas, prometem se casar... Pois é, eis um tema muito recorrente nas nossas novelas brasileiras! Em uma só emissora contamos com duas: Amor eterno amor e Avenida Brasil. Ainda que trabalhem com enfoques completamente diferentes, ambas utilizam o mesmo arquétipo de amor puro e infantil introduzido pela primeira vez no Brasil com A Moreninha.

Bem, como todos bem sabem – ao menos imagino eu que saibam – um dos amigos de Augusto o convidou para uma estadia em uma casa de veraneio em uma ilha, que acabou resultando em uma aposta que circunda toda a trama. Claro que não é possível dizer com absoluta certeza, mas Paquetá é conhecida como a ilha que serviu de cenário para o romance. Quem um dia tiver a curiosidade de visitar o local, encontrará várias “Moreninhas” no caminho: Pedra da Moreninha, Gruta da Moreninha, Casa da Moreninha... De fato, deve ser um passeio muito mais interessante após ler a obra.


Relembrando o que foi dito há alguns parágrafos atrás: seria realmente interessante se houvesse uma atualização da obra. Comparar a versão com valores antigos aos valores atuais... Então, alguém se habilita a transformar essa Moreninha numa Morenassa?

terça-feira, 5 de junho de 2012

Boas novas de junho


Fala galera,

Então, maio terminou e deixou alguns livros interessantes:


Tempo é dinheiro” de Lionel Shriver
Editora Intrínseca; Ficção
Número de paginas: 448; Preço: R$ 39,90
A consagrada escritora estadunidense de “Precisamos falar sobre Kevin” e “O mundo pós-aniversário”, lança um novo romance com criticas sobre os sistemas de saúde e questionamentos sobre objetivos e sonhos. Esse livro foi o foi finalista do National Book Award de ficção em 2010.


Invencível” de Laura Hillenbrand

Editora Objetiva; Não ficção
Número de paginas: 536; Preço R$ 54,90
Em maio de 1943, após ter o avião abatido em pleno oceano pacifico, o tenente Louis Zamperini iniciou uma das mais incríveis jornadas da Segunda Guerra Mundial. Essa obra teve mais de dois milhões de exemplares vendidos nos EUA.


Bonsai” de Alejandro Zambra

Editora Cosac Naify; Ficção
Número de paginas: 64; Preço: R$ 23,00
Não é só a história de um amor de Julio e Emilia, mas também a história do fim deste amor e sobre a consciência do seu fim. Depois de ser traduzido em dez países, o elogiado e premiado romance de estreia do chileno Alejandro Zambra chega, finalmente, às livrarias brasileiras pela Cosac Naify.


Tudo ou nada” de Luiz Eduardo Soares

Editora Nova Fronteira; Ficção
Número de paginas: 352; Preço: R$ 34,90
O autor, o mesmo de Elite da Tropa 1 e 2, conta a história de Lukas Mello, brasileiro que deixa a carreira no mercado financeiro e se tornou peça chave no tráfico internacional de drogas, onde outro tipo de "carreira" o aguarda. O personagem é fictício, mas é baseado na vida do carioca Ronald Soares.


Como criar o cão perfeito desde filhotinho” de Cesar Millan e Melissa Jo Peltier

Editora Agir; Não ficção
Número de paginas: 408; Preço: R$ 49,90
Apresentador do programa “O encantador de cães”, Cesar Millan, se uniu à sua produtora Melissa Jo Peltier para escrever esse livro, com o objetivo de “adestrar” qualquer pessoa a ter o animal de estimação ideal, desde que use as técnicas certas desde os primeiro anos de criação. Na obra, Millan cria quatro cachorros de raças distintas explicando o modo correto de lidar com cada um deles.


Queen nos bastidores” de Peter Hince

Editora Prumo; Não ficção
Número de paginas: 272; Preço: R$ 39,90
O autor, amigo dos integrantes do Queen desde 1973, presta um tributo à banda e a Freddie Mercury. Repleto de fotografias inéditas, algumas do próprio Peter, o livro revela detalhes curiosos da rotina e traços da personalidade dos integrantes do grupo, durante suas turnês pelo mundo. O autor, hoje fotógrafo publicitário, ainda narra diversos momentos históricos dos anos em que trabalhou para o grupo, entre as décadas de 1970 e 1980.


No jardim das feras” de  Erik Larson

Editora Intrínseca; Não ficção
Número de paginas: 448; Preço: R$ 39,90
O jornalista e escritor Erik Larson, reconstitui nesse livro a ascensão de Hitler sob a perspectiva do então embaixador norte-americano em Berlim, o professor William E. Dodd, e de sua filha, Martha. Com quase um milhão de exemplares vendidos nos Estados Unidos, a história chegará aos cinemas pela Universal, em uma adaptação produzida por Tom Hanks.


Sempre tua” de Florbela Espanca

Editora Iluminuras; Ficção
Número de paginas: 400; Preço: R$ 44,00
Essa é coletania de cartas, inéditas até dezembro de 2008, que foram endereçadas para António Marques Guimarães. Agora, reunidas nesse livro, a poetisa portuguesa revela faceta intimas e surpreendentes – Florbela se mostra muito atenta à vida pública, bem informada e com uma consciência política aguda.


Ouro, fogo & megabytes” de Felipe Castilho

Editora Gutenberg; Infanto-juvenil
Número de paginas: 288; Preço: R$ 34,90
Livro de estreia do paulistano Felipe Castilho, é o primeiro da coleção O legado folclórico. Na trama, um garoto de 12 anos tem duas vidas, uma real no cotidiano escolar e outra virtual em um RPG on-line. Mas quando seu personagem fica em segundo lugar ranking mundial, suas habilidades chamam a atenção de uma misteriosa Organização...


Noite eterna” de Guillermo del Toro e Chuck Hogan

Editora Rocco; Ficção
Número de paginas: 416; Preço: R$ 44,50
Encerrando a Trilogia da Escuridão, iniciada com o best-seller Noturno, encontramos mais uma vez os bebedores de sangue infectados por um vírus letal. Mas agora, após o caos e a chacina dos volumes anteriores, o planeta está envolto por uma camada negra que faz prevalecer à escuridão durante a maior parte do dia...


A escolha” de Nicholas Sparks

Editora Novo Conceito; Ficção
Número de paginas: 307; Preço: R$ 24,90
Sétimo livro desse consagrado autor de obras românticas, narra a história do veterinário Travis Parker, que conhece Gabby, uma assistente de medicina pediátrica, e para que sua paixão sobreviva, ele terá que mudar completamente a sua vida...


Jamie - 30 Minutos e Pronto” de Jamie Oliver

Editora Globo Estilo; Não ficção
Número de paginas: 288; Preço: R$ 69,90
Conhecido por seus programas de TV e os diversos livros que ensinam a cozinhar sem complicações, Jamie Oliver agora desafia os cozinheiros de plantão a elaborar refeições completas em meia hora - e com um forte incentivo ao consumo de alimentos naturais e orgânicos. Segundo a editora, todas as refeições foram experimentadas por ele e por sua equipe.


A mentira sagrada” de Luis Miguel Rocha

Editora Jangada; Ficção
Número de paginas: 402; Preço: R$ 39,90
Nesse romance, o escritor português conduz o leitor para dentro dos muros do Vaticano, em uma trama vibrante que questiona o Jesus histórico e muitas das verdades defendidas pela Igreja Católica. Seus livros anteriores, O último papa e Bala santa, entraram para a lista dos mais vendidos nos Estados Unidos do jornal The New York Times.


As raízes do rock” de Florent Mazzolieni

Editora Companhia Editora Nacional; Não ficção
Número de paginas: 224; Preço: R$ 49,90
Escrito pelo jornalista, escritor, fotógrafo e viajante profissional Florent Mazzolieni, conta como surgiu o gênero musical que deu início à maior revolução cultural do século XX. Abordando também a evolução da indústria fonográfica, o crescimento dos grandes selos independentes e o surgimento dos discos 45 rotações, a obra ainda destaca a importância da cidade de Nova Orleans como base rítmica do rock'n'roll e o reinado dos grandes grupos vocais. Para ilustrar o período que vai dos anos 1930 até meados dos 1950, o livro reúne mais de 300 fotos entre shows, capas de disco, recortes de jornais, selos de discos, cartazes promocionais e muito mais.


@mor” de Daniel Glattauer

Editora Suma de Letras; Ficção
Número de paginas: 184; Preço: R$ 29,90
Escrito pelo austríaco Daniel Glattauer, conta a historia de um homem e uma mulher que começam a trocar e-mails após um deles enviar ao outro uma mensagem por engano. Ao longo relacionamento virtual, fica claro que tudo se encaminha para que marquem um encontro. Mas surge o obstáculo real: a insegurança de ambos quanto à transformação da fantasia em realidade...



O senhor do lado esquerdo de Alberto Mussa
Editora Record; Ficção
Número de pagina: 288; Preço: R$ 32,90
O livro mistura crime e erotismo tendo como cenário o Rio de Janeiro do início do século 20. A trama se passa em um sofisticado prostíbulo da capital da República e um assassinato serve de ponto de partida para uma investigação sobre a mitologia erótica da cidade. O livro ganhou o prêmio da ABL de melhor livro de ficção publicado em 2011, e, no ano passado, venceu em primeiro lugar na categoria romance o Prêmio Machado de Assis, da Biblioteca Nacional. O título também está entre os 60 finalistas do Prêmio Portugal Telecom de Literatura.


Para quem tem uma pilha gigante como eu, ser torturante ler sobre alguns desses lançamentos. Mas não entrem em pânico! 

Até porque mês que vem vai ser muito pior, pois terá a FLIP! 

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Nova tripulante


Alô pessoas!

Quem aqui vos fala é Marilon – a suposta boa companhia citada anteriormente e mais nova maruja da tripulação do Nos Rabos dos Alfarrábios.

Então, mesmo sendo esse um post de apresentação, é com toda sinceridade que prefiro mil vezes andar na prancha a falar sobre mim. É uma fobia minha. Não é tão assustador quanto uma praça de alimentação lotada, é verdade. Mas também não existe nada que supere uma praça de alimentação lotada!

Opa, opa... Não é que nesse minúsculo parágrafo eu falei um pouquinho de mim? Pois bem, essa é a minha proposta: para quem está se perguntando “Qual é a dela?”, isso só será respondido através das publicações mesmo. Minhas redações não são nem um pouco impessoais. Um texto aqui, uma resenha ali e em breve terá até quem saiba meu tipo sanguíneo.


Em suma: a minha apresentação começa aqui e só acabará na minha última postagem nesse blog – e que o apocalipse venha antes que isso aconteça.

É um prazer começar a conhecê-los!