terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Vi, li e escrevi


César sem dúvida foi um dos homens mais importantes na história mundial. Líder icônico, ele consolidou as bases do Império Romano e se destacou não só pela sua desenvoltura política e genialidade militar, como também pela enorme popularidade. Só com essas características já temos os ingredientes perfeitos para romances históricos – cada um com uma visão bem particular do enredo.
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O botox era só no gesso!
Caio Julio César (em latim Gaius Iulius Caesar) nasceu em 13 de julho, 100 a.C. e foi assassinado com quase 55 anos completos. Chefe militar, político de destaque e patrício (ou seja, da “nobreza romana”), desempenhou um papel importante na transformação da República Romana em um dos maiores Impérios da história.

Além de estender o domínio da Cidade Eterna até o oceano Atlântico, César foi vitorioso na guerra civil contra Pompeu, tornando-se “ditador vitalício” até os idos de março de 44 a.C. Ele ainda se destacou intelectualmente por ser um ótimo orador e escrever prolixos e extensos livros de poesia, gramática e narrações de seus feitos militares – tendo tempo de se casar três vezes e ter um affair com a obtusa Cleópatra.
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"Eu queria ser Cleópatra!" :/ 
Plutarco, Suetónio e o próprio César deixaram relatos sobre o “Julio César histórico”, mas foi em 1599 que Shakespeare colocou o romano sobre os holofotes. O dramaturgo usou e abusou de famosas citações na peça “Julio César”, ressuscitando o grande líder de Roma e outras importantes personalidades da época, valorizando os momentos da traição de Brutus.

A famigerada peça virou filme em 1953, estrelado por ícones do cinema como Louis Calhern, Marlon Brando e James Mason.

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Algumas décadas depois a neurocientista e escritora australiana Colleen McCullough escreveu a célebre e gigantesca saga “Mestres de Roma”. Nos seus sete livros, cada um com quase mil páginas, narra-se o antes, o durante e o depois da Era Julio César. Ao longo da coleção o líder romano se mostra um controverso autocrata, além de brilhante militar, populista e reformador. Esta obra é tida como uma das mais completas (e complexas) sobre a figura de César.

Essa saga é extremamente recomendada aos fãs da série “Roma” da HBO. Há um clima parecido no enredo de ambas as obras.

"Pra que vou ler 7000 páginas se já sei o final?!"

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Contudo, o romance histórico mais inovador sobre o líder romano é o “César” do historiador, jornalista e escritor Allan Massie.  O autor consegue dar um tom inédito a uma história já muito batida, pois a narrativa é feita de forma amarga, pessimista e fatalista por Décimo Júnio Bruto Albino, amigo íntimo de César e seu principal traidor.  

Retratado como um megalomaníaco lascivo e desesperado pelo poder, César aparece nas lembranças de Bruto ao lado de outros personagens, como Cleópatra, Cícero, Marco Antônio e Otávio. O enredo do livro tem um ar de roteiro cinematográfico com um quê de aula de história, tudo isso com uma a atmosfera bem sensual.
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A mais recente “versão” de Julio César foi escrita por Conn Iggulden em sua saga “O Imperador”. Aqui a história muda um pouco e é narrada desde quando o líder romano ainda é um garotinho arruaceiro, criado junto com Brutos. O foco narrativo reveza entre essas duas personagens, mostrando o desenvolvimento conturbado de cada uma delas e a crescente distancia entre Julio César, líder carismático, reformador e visionário, e Marco Brutos, hábil lutador, carrancudo, invejoso e conservador.

O quarto livro encerrou a série com a morte de César (Droga, contei o final!). Falta certa fidelidade histórica, e em certos momentos as personagens são mais violentas e mortais do que Chuck Norris e Charles Bronson juntos. Contudo, a narrativa é bem conduzida, e os exageros em intrigas, sangue e sexo conseguem prender o leitor.

(Mas eu sou suspeito para falar... adoro “Tough Lit”!)


P.S. Que tal um ebook grátis de César

P.P.S. Dizem que Conn Iggulden está escrevendo o quinto livro de sua série, com Augusto e Marco Aurélio vindo descer o pau em Brutos! Deve sair em meados de 2013...

P.P.P.S Quando anunciaram que Roma não teria uma terceira temporada, surgiu o boato que haveria uma trilogia de filmes baseados na saga de Conn Iggulden. O primeiro filme, “Emperor: Young Caesar“, tinha até diretor: Burr Steers. No entanto, só restaram os rumores...

Romanos agora só no papel mesmo...

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Da guerra às "Flores" de plástico


Finalmente terminei de ler um livro sobre a Guerra Civil que estava na minha lista há mais de 2 anos. Foi menos difícil do que eu esperava, mas me fez ficar com saudades de um livro do Miguel de Souza Tavares, que tinha tudo para ser outro romance histórico best seller em terras luso brasileiras dele, mas só fez sucesso lá na “terrinha” mesmo...

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Passei 2010 inteiro paquerando um livro que vi na prateleira de novidades na Saraiva. Seu nome: “A batalha pela Espanha”. Autor: o escritor e historiador inglês Antony Beevor. Naquela época eu adorava ler livros de história...

Contudo, demorei para começar esse livro. O ganhei em 2011 e só em novembro passado é que o tirei de uma das minhas pilhas de livro.

Mas o li mais rápido que o esperava, e passei o fim de 2012 torcendo inutilmente para que os Republicanos virassem a guerra a seu favor e derrotassem os covardes Nacionalistas – desacostumei a ler livros de história! :p

Terminando o livro, fiquei mais curioso ainda com o conflito e com as outras obras de Anthony Beevor. O autor é muito bom, e apesar de ser inglês, consegue se manter neutro e fiel aos fatos!

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Os cenários, a época e as batalhas fratricidas me fizeram lembrar o romance histórico “Rio das Flores”, escrito pelo polêmico portuga Miguel de Souza Tavares.

Conheci esse autor com best seller “Equador”, um romance histórico fenomenal que explora com maestria as incoerências políticas, econômicas e sociais do mundo no final do século XIX.

Quando li a sinopse de “Rio das Flores” fiquei bem ansioso para lê-lo. Aí eu vi a capa e fiquei louco para arranjar logo o livro: era uma foto antiga da cidade do Rio de Janeiro com um Zeppelin ao fundo e tal!

E valeu a pena essa ansiedade, pois o livro é muito bom! Misturando ficção com fatos históricos o autor narra a saga de três gerações da família portuguesa Ribeira Flores, mas o foco principal é a "evolução" da relação entre os irmãos Pedro e Diogo, que vai do amor fraternal até um ódio profundo atrelado à convicções políticas cada vez mais opostas.

Mas apesar do romance ser muito bem escrito e com cenários familiares aqui no Brasil, em Portugal e na Espanha, o livro estourou lá em Portugal, mas não aqui nas terras tupiniquins...

O fenômeno do best seller é uma coisa complicada, mas acredito que esse livro não pegou por dois grandes motivos. Primeiro porque no Brasil somos bem mais simpáticos à ideia dos problemas e das incongruências que a colonização gera (como o explorado no “Equador”) do que às diferenças de ideologias políticas. A fidelidade partidária está aí para exemplificar, mas também podemos agradecer muito a nossos queridos militares da ditadura... 

E em segundo lugar, acho que Miguel de Souza Tavares, atento demais ao público brasileiro, deu um escorregão... Os outros livros dele possuem finais que deixaram um gosto amargo com sabor de realidade, que dá uma bela ressaca literária. Já “Rio das Flores” termina com um onírico "ar de final de novela da Globo"... :/

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Matar é fácil, investigar não!


Há quase três anos atrás decidi ler tudo da Agatha Christie. Daí eu fiz uma lista com todos os livros da velhinha e comecei a comprar, roubar e esmola-los...

Aproveitando que seus livros são pequenos, fui lendo um livro por mês ao longo desse tempo. Hoje, com mais de 50 lidos e menos de 40 para ler, posso dizer que o fim dessa saga literária está próximo! :p

Não é nenhum martírio esse “projeto”. Eu realmente me divirto com a "receita de bolo" das histórias, as visões preconceituosas da autora e sobrenaturais velhinhas sagazes da Agatha... E, como não falar das caricatas personagens que são super investigadoras ou super sinistras (ou os dois!).

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Ontem eu terminei “Matar é Fácil”. E, de todo rol de livros que eu já li, esse foi aquele que logo no início eu falei “Opa, perae! Tem um bagulho diferente aqui!!”

O livro começa com um tal de Luke Fitzwillian encontrando uma velhinha caipira solteirona (uau que original!) que está em Londres para denunciar à Scotland Yard um super assassino de sua cidade.

Ele não dá bola à história dela... Mas quando vê que pobre velhinha foi assassinada em plena capital e que talvez ela estivesse certa, Luke resolve arregaçar as mangas e investigar tudo.

Acontece que esse protagonista é totalmente imbecil e não está nada preparado para sua jornada de investigação na Inglaterra campestre do inicio do Século XX.

Apesar de ele se achar O Cara, está mais perdido que cego bêbado em tiroteio na Linha Vermelha. E logo ao chegar à cidade, considera todo mundo suspeito e se apaixona por todas as mocinhas da cidade. Para piorar o tolinho aí não sabe mentir, invade casas aleatórias para investigar, pede ajuda para quase todo mundo na cidade... É triste de se ver!

Mas no fim uma donzela sagaz consegue resolver o caso para esse estúpido... Na realidade, se ele não tivesse saído de Londres as coisas iriam se resolver sozinhas!

Esse livro é tão anormal que uma das personagens famosas de Agatha aparece como figurante só pra dar uma credibilidade na conclusão da investigação.

Com 3 adaptações para o cinema e televisão (a última com Julia McKenzie como uma “Miss Marple”, que transforma o Luke Fitzwilliam em um coadjuvante mais bobalhão), esse alfarrábio definitivamente não deve ser lido por quem nunca pegou uma “Agatha Christie”... Mas se você é fã, ou tem uma meta louca como a minha, ou tem curiosidade por desvios em estilos literários, vale a pena dar uma conferida nas trapalhadas desse protagonista fanfarrão!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Os alfarrábios - de cabo a rabo

O futuro dos leitores de livro nas futura antigas bibliotecas

Outro dia um freela doído me fez prostituir esse blog. Daí salvei todo o conteúdo que escrevi aqui no Word. No total tinha mais de 100 páginas e quase 50 mil caracteres. O trabalho valeu a pena, pois eu passei os olhos sobre tudo que escrevi e fui acompanhando como o Daniel de 2010 escrevia e pensava, e tive uma ideia geral do blog e da sua evolução – ou involução, sei lá, né?! :p

Percebi que por diversas vezes perdi o foco, que já era meio embaçado. Aí acabei enrolando e escrevendo sem objetivo, expressando ideias e assuntos muito variados e dispersos...

Lembrei que em 2010, quando criei o blog, fazia um ano que eu tinha voltado do mítico Mochilão, e por isso bateu de construir algo e daí eu busquei um norte e pensei em fazer esse espaço para escrever sobre livros.

Na época eu tinha acabado de ler “Dom Casmurro” e por isso ainda topava com a palavra “alfarrábio” na minha louca cachola.  Foi por isso que pensei nesse nome, “Nos rabos dos alfarrábios”...

...mas eu sempre ficava na dúvida se escreveria sobre livros em geral ou sobre alfarrábios propriamente ditos e seus afins...

Só que essa minha ambiguidade com o foco do blog acabou! E pra ser mais preciso, acabou há algumas semanas atrás!

Acredito que os livros físicos estão com os dias contados com a chegada das titânicas Amazon, Google e Nook em terras tupiniquins – ahhh sim, também tem a Apple que deu um “jeitinho” de “chegar”!

Mas sobre essa escalada para a extinção eu falo em outro post. Hoje eu quis me limitar a explicar a vocação desse blog, e acho que já me falei até demais...

Bem, o “Nos Rabos dos Alfarrábios” é sobre livros físicos e seus afins e “ponto”. Lógico que uma hora ou outra vou falar de ebooks e ereaders, mas decidi que esse espaço vai ser um bastião do livro físico, que eu acho está fadado a acabar mesmo...

... mas, como já disse e redisse, esse assunto fica pra próxima! ;)

O fim está próximo!


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Dois anos e duzentas e setenta e uma noites



Kitāb 'alf layla wa-layla, ou “O Livro das Mil e uma Noites” chegou na Europa e foi traduzido para o francês pelo orientalista Antoine Galland em 1704. Esse polvilhado escritor de peruca usou e abusou da liberdade artística, fazendo enxertos nos contos, modificando diálogos e reconstruindo enredos inteiros!

A obra não é fácil de ser lida. Não pela sua antiguidade, mas sim pelo sua narração que ocorre de forma pausada, e por diversas vezes se detém por parágrafos e mais parágrafos descrevendo palácios suntuosos, banquetes esplendidos ou figurinos extravagantes – mas, ainda assim, os contos do livro tem o seu mérito.

A história principal é simples: o sultão maluco Shahriar fez a promessa de casar todos os dias, e matar as recém empossadas sultanas após as núpcias. Mas eis que Sherazade, a mais nova sultana, malandramente é acordada todas as madrugadas por sua irmã para que conte uma história, que o sultão acaba acompanhando. No entanto, ela pára a narrativa quando o sol aparece, e isso sempre coincide com os momentos em que algo interessante ocorre nas histórias! Daí, o sultão sempre acaba adiando a execução dela... POR 1001 NOITES! :O

Oquei, mas Sherazade só conseguiu deixar o sultão piradão na dela com um macete que, ou deixou ele super interessado, ou super confuso. A sultana começa a contar uma historia dentro de uma historia dentro de uma historia... dentro da historia principal. É praticamente uma precursora do “Princípio das camadas da cebola” do filme “A origem”.

Chega um momento que esses contos contidos em outros contos acabam e chegam os ícones ocidentais do folclore oriental: Simbad, Aladim, Ali Baba e as historias do sultão 007 Harun al-Rachid.

Há um pouco de tradição e história, mas bastante de fantasia. Contudo, são três as questões mais curiosas que se apresentam ao longo dos contos:
  • O oriente é uma coisa só. China, Índia, África, Pérsia e o Oriente Médio são colados. Todos falam a mesma língua, tem os mesmos costumes, leis e tradições...
  • Todas as mulheres são lindíssimas e geram paixões avassaladoras quando são vistas sem o véu. Eu ainda acredito que isso acontece porque os heróis e vilões devem ter visto poucas mulheres sem o véu ao longo de suas vidas...
  • Sempre que tem um herói, ele é um típico cavalheiro dos romances de cavalaria. É bravo, honrado, forte e - com sorte ou não - ele vai se dar bem no final.

O final da história principal é bem chocho. Pode se aplicar a frase simplista do escritor irlandês Jonathan Swift: “No homem, o desejo gera amor; na mulher o amor gera desejo”. Mas eu fiquei indeciso se Sherazade foi uma mulher inteligente que domou um imbecil, ou se Shahriar foi um idiota que se “dominou” e apaixonou por uma mulher inteligente!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Robin Hoods autorais ou cidadãos conscientes?



Era uma vez um site chamado Livros de Humanas.  Não tinha fins lucrativos e compartilhava textos de livro bem caros, ajudando estudantes universitários com poucos recursos financeiros. E, apesar de ser desconfortável ler textos no computador, sua popularidade foi aumentando.

Então, autores e editoras que estavam deixando de lucrar com esse compartilhamento não autorizado, contataram uma entidade chamada Associação Brasileira de Direitos Reprográficos – ABDR. E ao ser acionada, está processou os donos do site e mandou desligá-lo.

É muito fácil usar do maniqueísmo nos casos de Direitos Autorais. Há sempre um antagonista, porque é impossível não haver confusão onde termina o direito de um e começa o do outro. A história pode ser invertida e falar de um humilde autor que viu seus livros sendo “pirateados” em um site, ou sobre uma editora que estava falida e quase fechando as portas e viu seus livros em um site...


Em geral, no Direito é assim, não há certo e errado. Esse tempo no escritório trabalhando com Direitos Autorias cansei de ver a enorme distância entre o ponto de vista de uma parte da de outra. Palavras e termos jurídicos são simples, mas são fácil e propositalmente confundíveis!

Mas, voltando ao caso exposto, aconteceu um “compartilhamento de contéudo não autorizado” - e é bom lembrar do “sem fins lucrativos”. A Lei de Direitos Autorais (a digníssima Lei 9.610/98) consegue caracterizar a contrafação  – “a reprodução não autorizada”. Mas não fala nada sobre o “compartilhamento não autorizado”.

Falei do crime, falta o castigo. E esse é com a Lei 10.695 de 2003. Ela, na realidade modificou o artigo 184 do poeirento Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (também chamado de Código Penal):
Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Curto e grosso, né? E a coisa piora  nos parágrafos que vem em seguida, em que temos as formas qualificadas do crime  - ou seja, com a pena consideravelmente mais alta, devido à maior reprovabilidade da conduta. Contudo, em cada signum sectionis (ou §, ou parágrafo mesmo) há sempre a expressão “com intuito de lucro direto ou indireto”.

Daí podemos entender que se a galera do site cometeu crime, mas na forma simples – aquela ali entre aspas. E só por curiosidade: o tempo da pena o caracteriza como “crimes de menor potencial ofensivo”, e a detenção, no caso, pode até ser substituída por uma pena alternativa.

Oquei, então tanto bafafá sobre um crime tecnicamente bobo chama atenção para duas coisas: primeiro a evidência de uma lacuna na Lei de Direitos Autorias; segundo fica a pergunta: compartilhar conteúdo sem fins lucrativos e sem autorização, com caráter didático, é crime?

Na minha opinião, esse episódio serve para mostrar um desacordo da legislação autoral com alguns preceitos fundamentais da Constituição Federal. Isso é grave e precisa ser discutido, pois tem a mesma raiz de outros problemas, como a quebra de patentes de remédios ou a desapropriação de terras, que é: até onde o direito ao bem individual - direito do autor - se impõe com relação ao direito aos bens coletivos - compartilhamento não autorizado da obra?

domingo, 17 de junho de 2012

Clássico de Junho


Muito bem! Após uma disputa acirradíssima, o livro A Moreninha ganhou seu lugar na resenha do mês, com seus poderosos quatro votos.


Só de ouvir falar de A Moreninha, a reação comum das pessoas é colocar a língua pra fora e dizer “Bleh, aquele romancezinho água-com-açúcar?”. Eu mesma já disse isso. Mas sou obrigada a admitir que, mesmo que seja cheio de sentimentalismos e idealizações da mulher típicas do movimento romântico brasileiro, A Moreninha é um livro agradável de ler.

Antes que me atirem as pedras, permita-me lembrar-vos que a obra de Joaquim Manuel Macedo foi publicada em 1844. Toda a sensualidade e ironia que recheiam o livro não são percebidas como eram há cento e setenta anos. Caso o livro fosse reescrito tendo como base os valores da sociedade hoje, atualizando gírias e expressões, os leitores com certeza se divertiriam tanto quanto as dondocas da época.

Por falar em atualizações... Alguém pode me dizer de alguma outra história que gire em torno de um amor de infância? Duas crianças que se conhecem, brincam juntas, prometem se casar... Pois é, eis um tema muito recorrente nas nossas novelas brasileiras! Em uma só emissora contamos com duas: Amor eterno amor e Avenida Brasil. Ainda que trabalhem com enfoques completamente diferentes, ambas utilizam o mesmo arquétipo de amor puro e infantil introduzido pela primeira vez no Brasil com A Moreninha.

Bem, como todos bem sabem – ao menos imagino eu que saibam – um dos amigos de Augusto o convidou para uma estadia em uma casa de veraneio em uma ilha, que acabou resultando em uma aposta que circunda toda a trama. Claro que não é possível dizer com absoluta certeza, mas Paquetá é conhecida como a ilha que serviu de cenário para o romance. Quem um dia tiver a curiosidade de visitar o local, encontrará várias “Moreninhas” no caminho: Pedra da Moreninha, Gruta da Moreninha, Casa da Moreninha... De fato, deve ser um passeio muito mais interessante após ler a obra.


Relembrando o que foi dito há alguns parágrafos atrás: seria realmente interessante se houvesse uma atualização da obra. Comparar a versão com valores antigos aos valores atuais... Então, alguém se habilita a transformar essa Moreninha numa Morenassa?