sexta-feira, 18 de junho de 2010

AVE SARAMAGO! NOS MORITURI, TE SALUTAMUS!



É triste quando morre alguém que gostamos ou admiramos. Mesmo que seja alguma celebridade inalcançável, o espaço que fica nunca é preenchido.

Quem gosta é a galera da mídia. Pois podem fazer aquelas matérias compridas com vários fatos e fotos da celebridade morta, cobertura do enterro, notícias sobre eventos e acontecimentos marcantes, etc. É o “Show busines being showed”.

Nunca fui um grande fã de Saramago, pois ainda estou em um momento de escritores menores e menos cabeça. Mas sempre planejei para ler toda sua obra, pois adorei os dois livros dele que li – "Ensaio sobre a cegueira" e "O homem duplicado".

Não vou falar sobre sua vida ou suas obras. Há uma enxurrada de informações circulando agora que o autor desceu desse palco que é a vida. Quero falar do que foi Saramago para mim e do que eu quero que ele ainda seja.

Nunca tinha ouvido falar desse português ranzinza até o natal de 2003 ou 2004, quando ganhei de um primo “Ensaio sobre a cegueira”. Como ele era um pseudo-cult e filho de português, demostrou muita surpresa quando disse que não conhecia Saramago.

Minha primeira impressão do livro: “show essa capa em alto-relevo”. Um ou dois meses depois comecei a ler o livro. Achei um porre aquela estilo estranho-esquisto-sem-pontuação-ou-travessão. Larguei o livro na mesma semana.

Viajei e dois meses depois continuei o livro na pagina onde havia parado – devia ser entre a 20 e a 30. Percebi que aquele estilo diferente era uma maneira excelente de o autor esconder futuros diálogos e narrativas intensas. O livro todo era um grande mistério. Parecia denso, mas a história era incrivelmente instigante. Achei sensacional!

Passei a olhar com bons olhos os fãs de Saramago. Mas sempre adie minha procura pelos seus livros. Era como se não me sentisse preparado ainda para lê-los.

Há 2 ou 3 anos atrás acabei comprando o Homem Duplicado. Sempre estive atrás desse livro e surgiu a oportunidade de agarrar o "bixinho". Outro alfarrábio incrível, mas um filho de uma puta safado me contou o final antes... (E acabou que eu fiz a mesma “gracinha” sem querer depois!)

Antes de lançar o filme “ensaio sobre a cegueira” eu reli o livro. Achei ele bem mais legal do que a primeira vez. Senti a mensagem verdadeira do livro. Enxerguei a raiva que Saramago sentia dessa merda de sociedade capitalista e hipócrita em que vivemos.

Vi o filme, mas não gostei muito – odeio a Julian Moore! Assisti entrevistas do português turrão e me diverti bastante – o sotaque dava ar divertido às suas reclamações. Seu ateísmo era contagiante, talvez por ser bem radical – quase um "fundamentalista" :p. Li sobre a sua vida e passei a admirar mais o cara.

Mas ainda não me sentia preparado para ler seus livros...

Daí vi um documentário sensacional, “Janela da alma”. Entre todas as historias e entrevistas, as mais tocantes e que deixavam mensagens fortes eram as de Saramago. No final eu pensei “Porra, esse é o cara! Tá famoso, rico, reconhecido e ainda reclamando...”

Hoje eu me sinto preparado para ler seus livros, mas a pilha esta muito grande... Quando acabar um dos “autores-alvo” eu juro que começarei a ler o portuga!

Estranho quando morre um cara assim... Apesar de odiado pelos religiosos, o cara era um dos “últimos filósofos”. Estava com leucemia, poucos sabiam, mas morreu lá com a sua família quieto e calmo. No fim, continuou ateu e defendendo todos seus ideáis – diferente do João Cabral de Melo Neto que morreu agarrado ao crucifixo.

E agora ficamos órfãos. Os fãs, ainda não acreditam, os que não o conhecem ou que nunca o leram – ou leram pouco como eu – respeitam e procuram saber mais sobre o portuga resmungão, e os religiosos quase soltam rojão com a queda do último grande "herege do ocidente"...

Falei em todas as fontes – twitter, orkut e facebook - e falo também (mas agora em latim):

Ave Saramago! Nos morituri, te salutamus!



"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar."
 
"Se tens um coração de ferro, bom proveito.

O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
 
"Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos."
 
"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."
 
"Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro."
 
"Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo."
 
"Estamos afundados na merda do mundo e não se pode ser otimista. O otimista, ou é estúpido, ou insensível ou milionário"
 
 - José de Souza Saramago (16/11/1922 – 18/06/2010)

3 comentários:

  1. Também não conheço muito de Saramago, mas do jeito que voce falou, me deu muita vontade de ler. A propósito, belo blog =)

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  2. Muito obrigado, Alice!
    Ele está meio devagar, mas deve engatilhar em breve!
    Bjus

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  3. começar a ler Saramago nao e pra qualquer um... nao pode ser leitor iniciante. quando li "Ensaio sobre a cegueira", as primeiras 15 paginas foram tensas... ate que voce pega ritimo da falta de pontuaçao para dar fluidez a historia.. mas o cara e mestre, consegue "nao pontuar" sua escrita com os simbolos normais conhecido por nós, mas e possivel entende-lo. muitas vezes quando escrevemos sem pontuaçao, fica impossivel extrair qualquer significado de uma frase ahahaha
    pra ler saramago e necessario certa habilidade. hoje leio livros que antes, quando mais nova, achava super complicado. portanto, para certos livros e necessario ter historico de leitura.

    nunca me aprofundei no velho... comecei com o ensaio e parei nele mesmo. acho que ainda nao estou tao parepada para ele, como vc se sentia...

    beelo post xD beijoo

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