domingo, 7 de março de 2010

Notícias 01 - Do pré-natal ao funeral

Desde que essa sede por ler – o que poderia ser traduzido pelas palavras de meu amigo Luis Felipe como “Gula Literária” – teve início, eu tenho sempre buscado informações no meio editorial ou fofocas nos bastidores do mundo literário. Começou quando eu tentava descobrir quando iria sair o novo livro de tal autor, daí passei para as fofocas e biografia dos autores, e hoje em dia qualquer notícia que tenha por tema livros ou escritores me atrai.

Daí, como o blog é sobre minhas impressões sobre livros e autores, acho que também deveria ter algumas notícias sobre o mundo literário. Partindo dessa idéia a partir desse final de semana, tentarei publicas todo sábado ou domingo cinco notas que li ao longo das semanas anteriores, citando as devidas fontes – para evitar plágios e enaltecer os samplings!


É minha obrigação informar a morte do imortal da Academia Brasileira de Letras José Ephim Mindlin no dia 28 de fevereiro, domingo passado. Apesar de não ter escrito livro algum, Mindlin foi, é e será um exemplo da paixão pela leitura. Ao ser eleito para a cadeira 29 da ABL, ele declarou “De certa forma, coroa uma vida dedicada aos livros”.

Mindlin dedicou seu tempo e dinheiro colecionando obras raras. Chegou aos 95 anos com um acervo de mais de 40 mil livros. Sua biblioteca, com obras de literatura brasileira e portuguesa, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários (originais e provas tipográficas), periódicos, livros científicos e didáticos, iconografia e livros de artistas (gravuras), era considerada a maior biblioteca privada do gênero no Brasil.

Em 2006, ano em que foi eleito na ABL, Mindlin doou todas as obras brasileiras do seu gigantesco acervo para a Universidade de São Paulo. Porém não chegou a ver seu quinhão doado integrando a biblioteca da USP, devido à infeliz e inútil burocracia da nossa legislação.

Eu não o conhecia, nem havia ouvido falar dele, mas saber de sua morte, assim como da minha ignorância, me entristeceu bastante. Vale à pena conferir a homenagem feita a ele: http://www.youtube.com/watch?v=LyKXLtn1mFg&feature=player_embedded

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Falando em biblioteca, essas últimas semanas eu vi exemplos loucos de incentivo a leitura.

A primeira foi na Austrália com as estantes recheadas de livros na praia, em Bondi Beach, praia mais famosa do país. Esta estranha iniciativa veio da empresa de design de mobílias IKEA, referência na fabricação de móveis e artigos domésticos, fundada em 1943 por Ingvar Kamprad, na Suécia.

A ação foi devido à comemoração dos 30 anos de um dos mais populares móveis da companhia, a estante Billy! Foram botadas 30 delas na areia, com os mais diversos títulos de ficção e não-ficção.

Os freqüentadores da praia puderam trocar seus livros por títulos presentes nas estantes ou então fazer doações em dinheiro que serão destinadas às fundações The Australian Literacy, de incentivo à literatura e linguagem, e Numeracy Foundation, que dá subsídios ao estudo de matemática e suas aplicações.

A outra foi nas cidadezinhas da Inglaterra. As tradicionais cabines telefônicas do país, cada vez mais artigos do passado (graças aos celulares) estão cedendo espaço para acomodar bibliotecas – por mais apertadas que possam ser!

A Westbury Book Exchange, talvez a menor biblioteca do mundo, cede seu apertado espaço adaptado para receber os volumes por apenas uma libra esterlina. Lá dentro funciona o sistema de trocas, onde se substitui um livro que já se tenha lido por uma das obras dentro da cabine.

A original biblioteca tem uma capacidade para cerca de 100 livros, para além de ter ainda disponíveis CDs e DVDs. A idéia partiu de um aldeão que ao ver as cabines e as bibliotecas deixarem de existir em sua aldeia, juntou as duas ausências nessa novidade.

Duas atitudes positivas, em países já com forte cultura e habito de ler, que utilizaram a tradição e símbolos nacionais para instigar a população a ler mais.

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Por falar em incentivo a leitura, seguindo um bom exemplo da Editora Nova Cultura em 2002, a Editora Abril lançou no dia 26 de fevereiro a coleção Clássicos Abril Coleções.

Formada por 30 obras em 35 volumes luxuosos, todos com capa dura em tecido e miolo em papel nobre, sendo cada livro acompanhado por um caderno de 16 páginas com informações sobre o autor e sua obra, a coleção com o acessível preço de R$ 14,90 é um excelente apoio aos parcos leitores brasileiros.

Não deixem de conferir nas bancas, ou no site http://www.classicosabrilcolecoes.com.br/

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Apesar dos pequenos incentivos aqui nas terras tupiniquins, diversas pesquisas demonstram que os brasileiros lêem cada vez menos. A mais recente pesquisa esta disponível no site do ministério da cultura, http://www.cultura.gov.br/site/2010/02/22/brasileiro-le-menos-que-ha-dois-anos-diz-pesquisa/.

Os motivos são vários, desvalorização e sucateamento do ensino básico e médio, falta de investimentos significativos do governo na cultura, a alta tributação de livros e entradas de cinema e teatro, etc.

O triste mesmo são as conseqüências. Nossa cultura cresce menos que as outras a cada dia. Isso ocorre em detrimento do desenvolvimento rápido e constante de outras. Parece besteira, mas pensando em um mundo globalizado, cada dia que passa, nossa cultura perde mais e mais espaço e cada vez mais rápido.

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Com um país desse tamanhão, um pé “sarado” de cultura na Europa e outro na África, ainda assim nossa literatura não existe lá fora!

É essa a denuncia que o escritor Cristovão Tezza alardeia após voltar de suas palestras internacionais.

Infelizmente não são novelas, funk e revistinhas pop que fazem uma cultura sobreviver. Não há um mínimo de incentivo para o nosso incipiente espaço para autores nacionais. Existem mais tradutores do que escritores. Falta interesse e sobra preconceito para com nossos autores atuais, em detrimento dos Best Sellers bobos e vãos.

Conta-se nos dedos os autores nacionais que são lidos ao longo do ano.

É esse o país rico em cultura que em 1922 sediou a polemica e progressista Semana da Arte Moderna?

Talvez tenha me exaltado, afinal a ditadura conseguiu diluir muito a cultura. Mas ainda assim, falta vontade dos jovens!

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