Steven Hall
Edição: 1
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2007
Páginas: 488
Certo dia, Eric Sanderson acorda sem vestígios de memória: não sabe quem é, onde está, nem como foi parar ali. Não encontra nada com seu nome escrito. Como se não bastasse, começa a receber cartas de si mesmo. Guiado por elas, conhece uma psiquiatra, que o recebe no consultório com um diagnóstico tenebroso: amnésia dissociativa, uma forma rara da doença, que arrasta suas lembranças de volta à estaca zero toda vez que ele apresenta algum progresso. Segundo a médica, Eric perdeu a namorada há três anos em um acidente na Grécia, e desde então começou a apresentar lacunas na memória. A doença só piorou, e a cada recorrência – sim, esta não é a primeira - ele lembrava cada vez menos. Porém aos poucos Sanderson descobre que suas memórias não foram perdidas, mas sim devoradas por um ludovício, um ser formado por idéias que continua em seu encalço. Enquanto foge desse misterioso monstro, vai juntando as pistas de sua identidade perdida, com a ajuda das cartas que enviou para si mesmo do passado.
A partir daí ele irá empreender uma jornada para tentar recuperar sua mente, enfrentar novos e velhos inimigos e descobrir a verdade sobre seu passado em um enredo cada vez mais complexo e surpreendente. O livro é um verdadeiro jogo entre o mundo conceitual e o real, e sua originalidade se estende aos truques tipográficos, às criaturas de palavras que saltam de suas páginas e à criptografia de textos. Por todo o livro, há códigos e mistérios a serem decifrados, numa prosa que combina o ritmo frenético de um blockbuster com o refinamento literário de um escritor jovem e promissor.
Parte do mistério do livro talvez seja explicada pelo seu título original: “The Raw Shark Texts” (“os textos do tubarão cru”), que não faz muito sentido, mas “Raw Shark” tem quase a mesma pronúncia de Rorschach (obrigado Alan Moore com seu Watchman!), o nome dado ao famoso teste da mancha de tinta. Neste tipo de avaliação, um psicólogo exibe manchas aparentemente aleatórias para que o paciente diga o que consegue “enxergar”... Sugestivo, não?
O livro tem esta característica, podemos vê-lo como suspense, história de amor, ficção científica, aventura e outras formas que talvez eu não tenha enxergado. Talvez pessoas diferentes enxerguem coisas diferentes nele. Recomendado para quem gosta de enredos diferentes e não se incomoda de ficar pensando na história depois do final do livro.
Steven Hall é um poço de cultura pop. Diferente da maioria dos autores que gostam de dar uma de moderninhos usando tais referências o escritor parece vivê-las. Ele menciona a cultura de massa de maneira absolutamente despretensiosa, criando personagens que efetivamente estão inseridos nesse mundo. Por exemplo, quando Eric e sua namorada discutem letras de música, é como se tivessem acabado de desligar seus iPods... Igualmente bacanas são suas brincadeiras estruturais. Em tempos de pós-modernismo, com jogos online e códigos de Dan Brown, Hall usa imagens e tipografia como partes essenciais da trama cinematográfica. Há mensagens cifradas, flipbook, trechos de enciclopédias, fotos...
Há ainda um grande sincretismo e influencia dos efeitos descritos com obras cinematográficas como Tubarão, Vanilla Sky, Matrix, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembrança, Casablanca, etc. e ainda grandes obras literárias como Alice no País das Maravilhas, Paul Auster, Jorge Luis Borges... Mas o que diabos tudo isso tem têm a ver com Frapê de Café, vida conceitual, um gato chamado Ian e paradisíacas ilhas gregas? Na cabeça de inglês Steven Hall tudo!
E o autor ainda vai além da limitação do suporte papel e expande a experiência do romance usando a internet. Há listas de discussão de seu livro onde já foram descobertos diversos "não-capítulos", trechos da história que existem em edições específicas da publicação ao redor do planeta. E a brasileira, claro, também tem a sua...
Só recomendo para os que têm a cabeça bem aberta, hehehe... Mas vai valer a pena!
OBS1: Pelo jeito, essa é a semana dos livros nota 10!
OBS2: Se quiserem vivenciar um pouco do universo do livro, http://www.cabecatubarao.com.br/
Nota: 10,0
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